terça-feira, 18 de novembro de 2008

DENTRO DE MIN-AS

Sempre abominei o ufanismo, centrar-se sobre supostas glórias de um território sempre me pareceu pequeno, muito condescendente, e contrário ao sentimento de colocar-nos a todos dentro de uma raça, a humana. Mesmo mantendo essa posição devo render-me a algumas coisas que podem ser exclusivamente inerentes a um povo ou lugar. Com isso constato que os lugares causam algumas características a seu povo e essas características acabam por tornarem-se verdadeiras identidades. Não creio que ninguém possa ou deva se vangloriar disso, é apenas um fato que minha defesa anti-ufanismo impedia de constatar.
Esse preâmbulo todo objetiva justificar as constatações de Minas em mim, eu que sempre quis ser cidadão do mundo, sou de Minas constitutivamente. Posso até pertencer ao mundo todo, mas não antes de pertencer a Minas. Suas montanhas estão em mim tão irrefutáveis quanto a serra da Mantiqueira ou do Caparó ou essas outras pequenas serras anônimas, músculos de meu corpo.
Não somos mineiros o tempo todo, mas somos aqueles que vez por outra ouvimos um chamado do alto das montanhas ao qual não podemos nos omitir.
Enquanto mineiros não fugimos à luta, não tememos empreito. Mineiro embrenha-se em matos, em pântanos, mas resolve o empenho. O mineiro é aquele que se atreve à escuridão das minas para trazer ouro. Isso hoje não é fácil, nossas minas andam escassas e os veios de ouro não estão à mostra. É preciso garimpar muito para alcançar os filões em nossas terras e em nossas profundezas, mas não tenho duvidas, estão lá e como "mineiros eventuais" podemos às vezes alcançá-los.
Montanhas e minas evocam um brado meu, um brado rouco, emudecido no tempo e que teima se anunciar. Já não posso contê-lo, rejeitei-o sob as montanhas de meu peito e interditei todas as estradas que as serpenteavam para alcançar seu cume. Deixei minha morada ao pé da montanha, fortaleza incrustada em pedras, forte de não cair, para sair alpinista até seu topo. Estou saindo das minas, encontrei pequena pedra de ouro, ainda suja, envolta em terra, mas que preciso mostrar sob pena de expatriação. Para muitos será apenas pirita, mas para mim é puro ouro. Muito tempo neguei minha necessidade de escrever, embora sempre o tenha feito desde os primórdios de minha infância e de minha alfabetização. Jamais o havia admitido assim registradamente para mim e para quem o quiser. Razões e recalques me impediram de fazê-lo e me neguei ser de Minas, deixei de perscrutar minha mina mais importante, de encarar sua negrura de cavar suas terras, de levar-lhe a luz de reconhecimento e se admitir mineiro que precisa expor pela escrita as coisas que o aflige, as coisas que julga ver e as coisas que pensa esconder. Redimo-me hoje, do alto da mais alta montanha de Minas do meu pico da bandeira: quero escrever, preciso escrever. Esse sou eu com meus inversos, com minha escrita canhestra diante de tantos mestres. Envergonho-me sim diante deles e de todos os demais, mas me escancaro, me encaro e me admito. Minas de Minas, minas de mim, se misturam e se encontrarão sempre em minhas palavras, meus pontos e minhas reticências.

8 comentários:

Rosana Tibúrcio disse...

Muito lindo!
Já não era sem tempo de descobrir o Brasil...opppss, Minas.
Adorei!!

UM DIA SEREI EU MESMA disse...
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UM DIA SEREI EU MESMA disse...

Muita, mas muita vontade de ser de Minas depois de ler tão belo texto. Parabéns! E continue nos brindando, seus fiéis leitores, com textos intensos como este.

UM DIA SEREI EU MESMA disse...
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UM DIA SEREI EU MESMA disse...
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UM DIA SEREI EU MESMA disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
UM DIA SEREI EU MESMA disse...
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Rosana Tibúrcio disse...

Esse "comentário excluído" não diz coisa com coisa, né?
Cara bobo!!
haushaushshs
Uma pena você não ter tempinho, tá maior farra lá no Guaraná pra "minzinha" aqui. Tô feliz!