quarta-feira, 3 de setembro de 2008

MISTÉRIO TERCEIRIZADO

Por Flávius Mondragon

O meu gozo está em não me fazer conhecer, mais do que isso está no que desconhecem de mim. Esse meu mistério terceirizado como forma de existência se apoderou tanto de mim que me desconheci. Nas pretensas tentativas de não deixar-me conhecer aos outros, deixei de conhecer a mim mesmo. E vivi muito tempo na ilusão consoladora de ser um auto-buscador, mas o que verdadeiramente fazia era me esconder nos escombros do orgulho, da arrogância e da pretensão.

Hoje o que tenho sobre mim é apenas uma percepção mais sentida que racionalizada, algo um tanto indefinível nas minhas valorizadas intelectualizações. Vivi um grande engôdo na saga de minha vida. Escondi-me o tempo todo. Me perdi nesses labirintos de-mentes. Quando dei por mim, numa fulgás percepção, não me sabia, era um estranho.

Não se deve, contudo, se deixarem iludir pela conjugação no passado, ela ocorre pela simples presunção ou pelo ansioso desejo de que essa constatação de desconhecimento e perda, seja por si só o inicio de um encontro de mim comigo. Um encontro, como profundamente se pode expressar essa palavra, é algo que não passa com o tempo, pois o tempo apenas reafirma sua perenidade além dos espaços cronológicos que se interpõem entre aqueles cujas almas se reconheceram.

Entretanto coloca-se aqui uma condição: não se reconhece o outro antes de reconhecer a si próprio. Vejo me então completamente sozinho pois ruem as construções que imaginei ter erguido com algumas pessoas. Elas de fato não existem, são apenas ilusões de ilusões que julguei perceber nas pessoas, nada mais eram que reflexos de quimeras construídas sobre personagens que personifiquei nos corpos de algumas pessoas, entre as quais, algumas ousei chamar de amigos.

Sou um mistério desgastado, descolorido pelo guardado num báu inominado, sem identidade. Um mistério cheio de sem segredos, que se abarrota e não se cabe.

6 comentários:

Rosana Tibúrcio disse...

Esse "Flávius" tá embromando a gente!!! rs
Bom-dia, Genisvaldo!!
Inda bem que te vejo por aqui e noutras trilhas... bom, bom.

Rosana Tibúrcio disse...

Explico: o Flávius não se conhece, não quer se conhecer e não nos deixa conhecê-lo.
Como ele não se conhece, não saberá nunca se o que digo é verdade ou não, certo ou errado, pois para ele, mais que um engodo, quase tudo é uma abstração. Inclusive as pessoas, sobretudo, os que lêem seus mistérios. Afinal, ele não terceiriza tudo???
.
Tem no meu outras trilhas - os endereços deles: complexamente completa, de Nina e Pedra, flor e espinho, de Rafa -, do lado esquerdo, abaixo do meu perfil e em: "Trilhas por onde ando."
.
Não suma do Guaraná, sentimos sua falta lá e você não sairá impune numa ou noutra sexta-feira, pode acreditar. Aguarde novos convites.
Inté!!

Anônimo disse...

"Vejo me então completamente sozinho pois ruem as construções que imaginei ter erguido com algumas pessoas."

Tudo bem que a idéia principal não é essa, mas talvez por alguma chateação parecida com o medo de uma amizade ruindo, fiquei parado pensando nesse trecho...

Liliane Borges disse...

Olá, como me convidou cá estou...
Nada como uma pergunta da psicologia né? O que é se conhecer? Dentre tantas explicações lógicas, subjetivas,profundas fico com as palavras de Goethe "Não se pode estimar verdadeiramente senão aquele que não se procura a si mesmo".
Gostei do blog
Abraço

René Rizzi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
René Rizzi disse...

puxa, que comentários mais pertinentes. obrigado a todos.
O Flavius me incomoda tbém, como creio ter incomodado vcs.

Rosana, tbem acho que ele não se conhece portanto não sabe como se mostrar, mas acho que ele quer se conhecer embora tente fugir disso. Achei ótima sua colocação acerca da abstração das pessoas, creio que se trata de um espelho, ele mesmo é uma abstração.

Rafa, vc tem me surpreendido com suas colocações, cê tá muito velho cara. gente da sua idade, geralmente, não pensa tanto(esse é um elogio do próprio Flávius). Revi o trecho que vc citou, acredito que as constuções partem de nós,somos uma base nem sempre sólida o suficiente, mesmo para conservar certas amizades.

Lili, obrigado pela visita, como pode ser visto, o Genisvaldo gosta (necessita) de definições, já o Flávius, como a Rosana insinuou (incisivamente)é uma abstração ambulante. conhecer para o Genisvaldo é conseguir elaborar algumas definições sobre si mesmo; para o Flávius conhecer-se é saber alimentar suas dúvidas.

Gente muito obrigado, após a sugestão da Rosana de criar esse blog, a minha expectativa era poder conversar assim, como agora.