segunda-feira, 8 de setembro de 2008

AMIZADES E CATIVIDADES

"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas". Essa é uma célebre frase da raposa ao pequeno príncipe. Não sei se concordo com a raposa. Bem, não concordo com a raposa. Para mim a amizade é a forma mais sublime de amor e por isso libertadora, tudo que existir aquém disso ainda não é amizade.

Na amizade nunca damos a merecida e suficiente importância aos amigos e mesmo assim permanecem conosco. Na catividade tudo o que damos é sempre pouco. A catividade é cobrada em quilômetros de atenção, a amizade se satisfaz com milésimos de lembrança.

Sinto-me livre de meus amigos. Tanto que passo muito tempo sem dar menor notícia e depois apareço com a maior cara de pau como se tivéssemos nos encontrado ontem. Pra mim, de fato é assim, apesar de ficar "distante" muito tempo, meus amigos permanecem sempre comigo.

Disse uma vez, que havia aprendido a gostar das pessoas sem esperar que correspondessem à minhas expectativas. Na verdade, estou aprendendo a fazer isso, pretendo gastar pelo menos essa existência nesse empreito. Já tive amigos que não eram amigos e amigos a quem custei reconhecer, coisa que é só possível com muito, muito tempo.

O tempo é o maior juiz das amizades, faz ruir as pretensas e edifica as verdadeiras. Mas as amizades não nascem assim... grandes, começam por uma simpatia, um respeito e uma admiração. A amizade sementinha é extremamente delicada, precisa do acalanto do silêncio e do embalo da compreensão.

Se enquanto semente, ou jovem planta, ainda é frágil, a amizade já amadurecida é quase inabalável. Ressalvo o quase como um remédio que tomo antecipadamente aos silogismos.

Não sou bom em amizades tanto que tenho poucas. Por isso não tenho nenhuma pretensão em ditar cátedra, apenas expresso essas minhas crenças, eu que me decidi um falante pela escrita.

Eu tenho saudade de meus amigos justamente quando os encontro. Não queria ter estado longe, mas enquanto estava não me apercebia disso. Quando estou junto, acho maravilhoso. Juro a mim mesmo que não distanciarei tanto tempo. Depois vou embora e me esqueço. Perco-me nas merrecas cotidianas e na enorme confiança de que estão sempre à minha espera. Essa não me parece uma atitude reta e louvável, mas é assim que me ocorre. Algo de sádico e punitivo, que me pertence e que me infrinjo em redenção à culpa de sentir tanto prazer em estar com vocês, meus amigos.

4 comentários:

Anônimo disse...

Amizade.
.. Ensinamento pra vida inteira.
Muitas me fizeram e me fazem bem. E muitas ahhh como me fizeram mal.

Da minha parte, há sempre uma entrega total. Reconheço como um erro. Porém, hoje, me controlo, tento conhecer "tal" pessoa primeiro, fico com o pé atrás e mesmo assim, às vezes dou com os burros n´água.

Amo meus amigos.
.. adorei o texto.

Beijocas

Liliane Borges disse...

Talvez tenha razão em dizer sobre o que é realmente cativar. Em nossa maneira errônea de entender alguns relacionamentos acreditamos que temos quando aprisionamos. Mas atribuí essa frase não à amizade, mas sim às ressôncias que tem nossas escolhas, sou responsável pelo que escolhi carregar, principalmente os sentimentos.Mas você me lembrou de algo importante, a liberdade que tenho de me sentir ou não cativa, de ser ou não escrava, de escolher me libertar de minhas proprias escolhas depois de ter pagado o devido preço por elas...
Então talvez a frase também possa ser assim Tu te tornas eternamente livre para escolher pelo que quer ser responsável...
Gostei do texto
Abraço

René Rizzi disse...

Marininha, sempre me arrependi foi das entregas que não fiz. Mesmo com as inúmeras decepções as entregas, mesmo frustradas, me fizeram ser mais.

Lili, essa releitura que fez ficou ótima. Precisamos conquistar liberdade suficiente para nos libertar das próprias escolhas.(conheço de cadeira)

Vejo isso como romper as culpas, coisa de obssessivo.

Rosana Tibúrcio disse...

Eu me sinto, também, um tanto frustrada em não me doar mais aos meus amigos - isso foi o que mais apreendi de seu texto.
Quanto aos "não-amigos", penso assim: quando mais cedo "reconhecê-los", mais cedo eu me sinto livre.
É isso!