sexta-feira, 29 de agosto de 2008

AS RUGAS DA MADEIRA

Sentado sobre um pequeno tronco de eucalipto acabo por me deter nas frestas, ranhuras, e comidos de cupins desse pequeno pedaço de madeira. Comecei a ler essas escritas e me deparei com uma história (adoro historias, causos, fábulas e mitos).

Era a história de um daqueles cupins que além de encher seu estomago, foi cunhando passagens naquela madeira, acerca daquilo que lhe afligia. Pensava ele como seria o mundo além daquelas cascas. Haveria mundo? Suspeitava que sim, pelo menos para justificar sua simplória existência, peça descartável de uma comunidade de cupins. Havia milhões de irmãos, cada um deles bonitinho cumprindo o papel que a comunidade exigia. Quem ousasse transgredir era posto fora, para um mundo de onde ninguém retornara, para dizer o que havia por lá.

Registrava-o suas inquietudes no corpo daquela madeira, de forma velada e introspecta, já que não tinha com quem compartilhar. Falou ele de seus filhos que não mais conseguia distinguir entre os demais, agora eram outros, como tantos. Não conseguira realizar seu sonho de perenidade em que seus herdeiros lhe cantariam glorias.

Que eram seus sonhos agora? Devorara grande madeira com essa questão martelando-lhe os sentidos. Fizera longos rastros, andou em círculos, fez piruetas inglórias e por fim afundou-se em seu jazigo, sua comida também fora sua sepultura. Seu mundo, emaranhados de caminhos sem respostas.

Pasmei! Salta-me à percepção registros daquela árvore em que sentencia ser suas rugas, os sonhos e devaneios dos outros. Incômodos envelhecedores.

2 comentários:

Rosana Tibúrcio disse...

Tô me sentindo numa árvore assim, andando em círculos; ou sou a própria árvore: cheia de rugas...
Lindo o texto, qual dos heterônimos é o autor?? Eu não soube identificar.

René Rizzi disse...

muito boa a pergunta vou solicitar a eles que se identifiquem a cada texto. obrigado.