quinta-feira, 28 de agosto de 2008

COMO EU QUERIA

Eu queria escrever diferente, suave colorido e com breve perfume nas palavras, que deleitasse leitores e os acalantasse em horas difíceis ou sem prazer. que proporcionasse uma leitura amena, que entretece sem reflexão e ficasse levemente à flor da pele como um riso solto e despretencioso.
Não consigo!
Não consigo escrever apenas com as mãos e minhas entranhas não têm o frescor das manhãs, são carregadas das sombras da noite e sempre me escapam junto às palavras. Admiro quem consegue fazer isso sem ser banal ou pedante e sem ter o ranço das fantasias melodramáticas. Não consigo. Não sou de estirpe tragável sem arranhar a garganta, me brotam nas palavras a luxúria dos amantes nos bordéis, a dor dos pais que perdem filhos e a de filhos que não tiveram pais. Vem-me o ódio dos vingativos, a perversão dos psicopatas, a frieza dos assassinos, as lágrimas da saudade e o vazio daqueles que passam fome. Um vazio que transcende o corpo e dói na ponta das unhas das crianças que sentem frio, desagasalhadas em noites de rigoroso inverno.
Minha escrita não carrega leveza e sim a densidade, à revelia de mim. Não me furto aos sentires quando ponho pena e papel. Como se vê me resta certo romantismo caricato e torpe, fugidio de um saudosismo negligenciado que permeiam minhas memórias.
Tenho esperança no passado e saudades do futuro, como se de costas caminhasse. Minha escrita é assim, às avessas, brotada sem adubo e sem zelo, dos muitos que me povoam. Não têm identidade. São gritos escapados do silêncio para tingir papel. É ipremeditada, irrompe sem aviso ou licença, quer louros e quer críticas, quer vida, qualquer vida, sem explicações. Não é como eu queria, é o que sou.

2 comentários:

Rosana Tibúrcio disse...

O que escreve pedante, é pedante; o que escreve falso, é falso; leve é leve e por assim vai.
O que se preocupa com detalhes, como a grafia das palavras, por exemplo, como eu, é assim, no dia-a-dia; o que escreve intenso, é intenso.
Sempre haverá um leitor para um escritor. Há quem ainda compre Paulo Coelho, por exemplo...que se repete a todo instante...rs
Eu gosto desse seu jeito intenso de escrever e talvez esse tenha sido um de seus melhores textos.
Não gosto dos pedantes nem daqueles que "floreiam" demais.
E, assim como você, aprecio textos leves, sobretudo, se forem bem escritos. Quer uma dica? Entre em "outras trilhas" e procure um endereço de um blog: "bebezinho na barriga" - você não vai acreditar!!
Delicie-se...
Eu me esbaldei aqui hoje... owww
Parabéns!!

René Rizzi disse...

fui lá, achei ótimo, leveza até nos titulos, que invej boa.