sexta-feira, 22 de agosto de 2008

O QUE DAMOS E O QUE QUEREMOS?

Começo esse post a lá Minuchin, fazendo uma intervenção bombástica, para acalanto de meus pares da psicologia (nem todos):

- Oferecemos o que nos falta e pedimos aquilo que temos –

O que nos falta nos preenche tanto que nos traz uma pseudo idéia de que o possuímos em abundância. Com isso nos sentimos compelidos a sair por ai distribuindo aquilo que pretensa ou equivocadamente imaginamos estar repletos, compondo um engodo entre nós e o mundo, entre nós e o outro.

Nesse engodo, nos imaginamos altruístas e solidários distribuindo benesses e o outro, com outra visão dessa realidade se sente traído por uma promessa de oferta jamais cumprida. Nós, em contrapartida, fechando esse círculo, nos comiseramos de auto consideração: Como pode ele (o outro) ser tão ingrato? Eu que tudo me dei? O que recebo em troca, senão descaso e desdém?

Está armado o circo, sim porque de longe, se alcançássemos a distância da imparcialidade veríamos nada mais que um circo em que protagonizamos uma palhaçada cruel, cruel por nós e a nós mesmos. Como podemos dar aquilo que não temos? Essa que parece uma lógica perfeita sucumbe sob essas situações que invariavelmente se repetem em nossa vida (ou será apenas na minha?). Desconhecemos, ou queremos tanto desconhecer nossas faltas que as colocamos nos pontos nobres das gôndolas de nossa vida. (Me passa pela mente um pensamento pernicioso que alguém desavisado esteja imaginando essa falta a que me refiro como um delito, não? Não! Que bom que alivio!). Voltemos. Lá estão elas, as faltas, expostas a nos cegar convidando os outros, inocentes (não é sarcasmo) a um deleite que jamais se dará. Construímos com isso, (que ironia) falta nos outros. Espere aí, esse construímos é fruto de meu ostensivo lado narcísico (ouvirão muito falar disso) porque nosso poder não chega a tanto, mas pode se restringir (ou ampliar) a uma provocação. Isso me parece mais justo: nossas faltas acabam provocando a falta nos outros. Lindo não?

Dando-me por satisfeito (por ora e para não delongar demais) a respeito da falta, me dedico ao outro lado da assertiva sobre pedir aquilo que temos. Essa sim é uma ironia das bravas. E maior ironia ainda quando se refere à razão. Quando temos razão (sobre qualquer coisa) cismamos em pedir a razão dos outros, clamamos, imploramos por sua aprovação para ratificarmos o ratificado. Podem observar, com a acuidade que a questão merece, quando alguém tem razão verdadeiramente (isso é raro), cisma em negar, teima em duvidar disso a ponto de requerê-la dos outros.

Outra coisa que se encaixa perfidamente nessa ironia da posse é o amor, quem tem muito amor (nem sempre quem recebe muito, tem muito. Às vezes deixar perder) nunca percebe, se desmancha em dengos e mimos (faz até beicinho) e se diz abandonado. Está tão repleto de afagos e carinhos (isso também é raro) que se percebe não tendo nada. Já para quem falta...(bem, já falei da falta). A pessoa muito amada tende a negligenciar o amor que recebe indo a extremos de abusos com aqueles que a amam (minto?). Ponham isso à prova. Um bom indicador de que é amado, seria, pois se achar o (a) mais reles e abandonado dos seres quando cercado de atenção e afagos. Não vale burlar essa regra forçando-se essa sensação. Pecado! Mas não funciona, a coisa tem que ser autentica mesmo, tão autentica que aquele que de fato viver essa situação jamais a percebera. Cruel e perversa essa sentença, mas é.

Parafraseando Hesse: só percebemos o paraíso, quando dele somos expulsos.

4 comentários:

Anônimo disse...

Ai, "cê canfundi meu tico e teco"; hoje eles saíram da senzala intelectual e estão na doméstica.
Depois volto de outra face (falei disso ontem no Guaraná, e comento).
rs

Rosana Tibúrcio disse...

Bom, a princípio pensei que você se referia a algo que disse ontem lá no Guaraná: sobre criar expectativas em relação aos outros e não tê-las, porque o outro não é você.
A princípio pensei isso, como disse e depois não muito e agora de novo isso. Você bem que podia ter fragmentado esse post nuns três... e já era muito pano pra muita manga em cada um dos fragmentos.
Mas... parando de reclamar - meu raciocínio inda tá médio - eu penso que não tem como ser tão diferente disso que você colocou aqui, sobretudo em relação a ter razão em algo e pedir ratificação em vez de retificação, estranho mesmo, né? Ocorre que pensamos o outro sob o nosso ponto de vista. Desde que eu não seja uma psicóloga (jamais quis ser), ou uma juíza (isso me interessaria mais, pois gosto do e de Direito), eu assim, Rosana, na seca, se analiso algo ou o outro nunca é com imparcialidade, por mais que eu queira ser justa; analiso e espero sob o meu jeito de sentir, pensar, viver, e amar.
.
Cê num acha que eu tenho razão???
rs
Inté o meu próximo post aqui nos comentários.
.
Isso é papo pra um dia inteirinho.

René Rizzi disse...

Ha ha, viu como é assim? Mesmo que se tenha razão ainda necessitamos da aprovação. Por outro lado aqueles que imaginam ter, sem ter de fato jamais se preocupam em ratificar suas "razões".

Anônimo disse...

necessario verificar:)